Lava Jato estuda pedir acesso às investigações
sobre Alckmin
Nome do
ex-governador de SP apareceu em delações de executivos da Odebrecht. STJ
decidiu encaminhar inquérito à Justiça Eleitoral.
Por Roberto Kovalick,
Jornal Nacional, São Paulo
12/04/2018
20h53 Atualizado 12/04/2018 21h08
Procuradores da Lava Jato em São Paulo estão
estudando como avançar nas investigações sobre o ex-governador Geraldo Alckmin,
do PSDB. Por decisão do Superior Tribunal de Justiça, o inquérito sobre o
tucano foi encaminhado à Justiça Eleitoral. Dessa forma, Alckmin responderia
apenas por caixa dois de campanha. Os procuradores ainda estão decidindo os
próximos passos. Uma das possibilidades é pedir o compartilhamento do inquérito
com a Justiça Eleitoral e, assim, verificar que há indícios para abrir
investigações criminais contra o ex-governador.
O nome de Geraldo Alckmin apareceu nas delações
premiadas de três executivos da construtora Odebrecht.
Benedicto Junior, que comandava o departamento de
operações estruturadas da empresa, o chamado "departamento da
propina", diz que, no total, foram destinados R$ 10 milhões de caixa dois
às campanhas de Alckmin em 2010 e 2014.
“R$ 10 milhões em caixa dois pelo sistema de
operações estruturadas da Odebrecht”, diz.
Arnaldo Cumplido era diretor de contratos do Metrô
e relatou que o repasse na campanha de 2014 de R$ 8 milhões veio da alocação de
custos na obras da Linha 6-Laranja do Metrô (Brasilândia / São Joaquim). A
Odebrecht fazia parte do consórcio que fez parceria com o governo do estado
para realizar as obras.
“Era um apoio para a campanha do governo do estado
de São Paulo. Teoricamente, esses valores saíam dos custos das obras do
estado”, diz Cumplido.
Benedicto Junior disse que Alckmin nunca beneficiou
a Odebrecht, mas que a empresa deu dinheiro para a campanha dele porque tinha
interesse em manter boas relações com o governador.
Alckmin, como governador, tinha foro privilegiado e
o caso foi para o Superior Tribunal de Justiça, em Brasília no fim do ano
passado. Na semana passada, Alckmin renunciou ao cargo e perdeu o foro
privilegiado.
Os procuradores da força-tarefa da Lava Jato em São
Paulo pediram, então, à procuradoria geral da república em Brasília para
receber o inquérito. Mas a PGR indicou ao Superior Tribunal de Justiça que a
suspeita era de crime eleitoral. Por isso, o STJ enviou para a Justiça
Eleitoral em São Paulo.
No pedido à Procuradoria Geral da República, os
procuradores da Lava Jato de São Paulo disseram que o envio da investigação era
urgente tendo em vista o andamento avançado de outras apurações correlatas ao
caso.
O vice-procurador geral da república, Luciano Mariz
Maia, respondeu que nunca foi informado de apurações correlatas e muito menos
da alegada urgência. E reafirmou que a suspeita era de crime eleitoral.
O advogado de Alckmin defendeu o governador. “Acho
que a investigação está sendo feita, é normal que o seja, mas a minha
expectativa é que, em breve, tudo seja esclarecido e, se houver culpados, que
se punam quem realmente cometeu algum ilícito. mas, em relação ao governador,
estamos muito tranquilos”, disse José Eduardo Alckmin.
Em entrevista nesta quinta ao jornal O Globo, o
vice-procurador geral da república, Luciano Mariz Maia, disse que as
referências a Alckmin na delação da Odebrecht foram no
sentido de que ele teria recebido dinheiro não declarado à justiça eleitoral
para a sua campanha e que a investigação se deu sobre esses fatos. Para o
vice-procurador geral “não havia elementos para ir, além disso,”.
A Procuradoria Geral da República informou em nota
oficial que, se os procuradores da força tarefa da Lava Jato em São Paulo
tiverem informações que possam levar adiante investigação sobre atos de
corrupção ou outro crime, nada os impede de iniciar uma apuração criminal sobre
os fatos.
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